quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A comunicação de Cavaco Silva.

Estas declarações de Cavaco Silva confirmam integralmente o que aqui escrevi sobre o cerco que o PS montou ao Presidente e de que a resposta de Silva Pereira constitui um claro exemplo. Tudo isto demonstra uma escalada no conflito entre os dois órgãos de soberania que, ao  contrário do que tem sido referido, não tem por base questões pessoais ou ideológicas, mas uma questão institucional da máxima gravidade: o Estatuto dos Açores. Esse diploma alterava a arquitectura constitucional do Estado, minando os poderes do Presidente na relação com os órgãos de Governo regional e a insistência dos vários partidos, reféns dos seus apêndices regionais, na sua aprovação constituiu um sério desafio ao Presidente. O PS acabou por fazer passar o diploma, mas depois perdeu a batalha no Tribunal Constitucional. 
A partir daí, a guerra era inevitável. Tendo Sócrates a obsessão de combate que o caracteriza, não aceita derrotas, pelo que não descansará enquanto não vergar Cavaco Silva. Receio por isso que o próximo palco de batalha seja a revisão constitucional, onde Sócrates não deixará de querer consagrar constitucionalmente as normas chumbadas do Estatuto dos Açores, e onde tentará reduzir ainda mais os poderes do Presidente. Mas Cavaco Silva não aceitará ser transformado em Rainha de Inglaterra, pelo que a guerra se vai acentuar.
Sendo claro este enquadramento, acho que o Presidente não esteve bem nas declarações que fez ontem. Denotou alguma perturbação causada pelos ataques que o PS lhe moveu e terminou da pior maneira, falando na vulnerabilidade do seu sistema informático, que estranhamente apenas teria sido descoberta nesse mesmo próprio dia. Pelo contraste, a declaração serena de Pedro Silva Pereira, em resposta factual, permitiu ao PS capitalizar pontos na opinião pública.
Mais uma vez, o PSD erra clamorosamente quando continua a querer entrar nesta batalha. Nem a Cavaco Silva interessa essa associação, nem o PSD pode querer ser o "partido do Presidente", uma espécie de PRD do séc. XXI. O povo não gosta de conflitos institucionais, pelo que só penalizará quem neles se envolver, com razão ou sem ela.

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