sexta-feira, 16 de maio de 2008

O "calvinismo moral"

Um dia depois de ter pedido desculpa aos Portugueses por ter fumado num vôo onde tal não é permitido, vem agora o Primeiro-Ministro atacar os que justamente o criticaram, acusando-os de "calvinismo moral". Deve ser seguramente a influência do estilo do Comandante Hugo Chavez, que levou o Primeiro-Ministro a fazer da Venezuela este tipo de declarações agressivas pouco pensadas. Esta acusação volta-se é contra o próprio Primeiro-Ministro.
Efectivamente, o que caracteriza o calvinismo é considerar o homem escravo do pecado, pelo que deverá adoptar uma disciplina rigorosa e ascética de vida, de acordo com a moral cristã, ainda que tal não lhe garanta a salvação, que depende sempre da misericórdia divina.
Ora, ninguém pretendeu o Primeiro-Ministro abandonasse o hábito de fumar, nem sequer que desse explicações sobre esse hábito. O que se exigiu foi que as mesmas leis que se aplicam a toda a gente não fossem ignoradas nos vôos do Primeiro-Ministro.
O Primeiro-Ministro, quando a situação foi denunciada, é que transferiu a questão da esfera legal para a esfera moral, pedindo desculpa aos portugueses (!), informando sobre os seus hábitos tabagistas (!!), prometendo deixar de fumar (!!!), e fazendo logo jogging em público no dia seguinte (!!!!), como se pretendesse manifestar uma profissão de fé contra o tabaco e a favor da vida saudável. Se há algo que parece próximo do calvinismo moral é seguramente este tipo de comportamento.
Quando alguém pratica uma infracção, seja o Primeiro-Ministro ou o mais humilde cidadão, o que há que fazer é aplicar a lei e sancionar o infractor com a sanção que a lei prevê. Pedidos de desculpas e promessas de deixar de fumar não têm nada a ver com o que deve ser a relação dos governantes com os cidadãos. E acusar de pruridos morais os que se limitam a exigir o cumprimento da lei é a forma ideal de levar a que ela não seja aplicada.

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